domingo, 1 de abril de 2012

As mais belas e tristes figuras



Não foi a falta do que fazer o motivo pelo qual o "engenhoso fidalgo D. Quixote de la Mancha" se entregou ao romantismo. Foi a beleza que o seduziu e fez dele seu prisioneiro. Torturou-o com delírios de bravura e heroísmo e com a fonte de uma ilusão maior - a miragem de um amor...
A atenção é própria das pessoas solitárias e isso talvez agrade à beleza. Para D. Quixote, essa senilidade ingénua foi a morte da sua imaginação, anulando o sentido do desprezo do ridículo, petrificando os cascos da fidelidade e apagando o reparo de uma Dulcineia, ao que parece até bastante feia, que não desejava ser salva dos carroceis do vento...
Mas a beleza e o amor são vítimas de uma própria condição: por nós existem, porque de nós subsistem, e sem nós perecem. Nasce depois a saudade, essa dúbia forma de sentir, que não é clemente. É um sentimento-semente, de provável perenidade, que em qualquer momento nos obriga a recordar qual foi o desejo, o que foi dele, e do quão estranhos somos por ser capazes de o regenerar e de voltar a desejá-lo num arrebate prudente que não nos surpreende... um aperto que se expande por dentro, que comprime, que expurga limites, e que, se nos esperar uma prognóstico favorável, um dia, apagar-se-á...
Cavaleiros e Amazonas de Tristes Figuras todos nós já fomos, ou somos, ou seremos (novamente). A única certeza é que somos andantes. Pa ´lante Sancho...

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